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Tal processo cartográfico subjetivo leva o sujeito a caminhar pela cidade, aberto à percepção do que é não visto, do não percebido e do não oficial, criando outras possibilidades de acolhimento e representação da urbanidade inserida nas paisagens psicossociais que se sobrepõem em um espaço da cidade. Ao identificar o real potencial de acolhimento dos espaços, a convivência entre estas ‘diferentes cidades’ é facilitado em todas as dimensões possíveis. Ações de apropriação espacial como as propostas são dispositivos políticos de desmontagem de pré-conceitos, que buscam criar condições para a manifestação das potências dos sujeitos que habitam o ‘diferente’. Para que estas sejam reconhecidas é preciso caminhar, errando e observando: quando um ser humano caminha em um território, seja ele conhecido ou não, as diferentes percepções e sentimentos que brotam durante o percurso constitui uma maneira de modificar o significado daquela paisagem: caminhar muda culturalmente o significado do espaço percorrido e, consequentemente, o próprio espaço. O caminhar acolhe o movimento do corpo no espaço em espírito e ideia: por este motivo é uma prática estética. Caminhando, o ser humano acolhe o por vir na sucessão de encontros, renovando em significado as rotas e caminhos. Movimento primordial da humanidade, o caminhar define o espaço habitado o significando como a herança do caminho do errante e da espera do que não permanece. O errante penetra com o corpo no espaço entregando-o às contingências e às diferentes percepções e sentimentos que brotam durante os encontros au hasard, construindo a sua cartografia: o olhar que tudo vê alia-se ao corpo que sente, respira e escuta, criando relações com os elementos dos lugares, em um movimento contínuo de resignificação e nomeação, sem dentro e fora. Desta maneira, os limites conhecidos vão sendo permeados e perdendo a importância enquanto as suas bordas se movimentam acolhendo os eventos nas paisagens psicossociais que se sucedem.

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Cartografar os acolhimentos é enxergar, reconhecer e propor à cultura do outro, invisível aos olhos de quem não quer ver, representar-se, dando boas vindas ao agenciamento da expansão da inclusão e coexistência. A tarefa do Arquiteto multidisciplinar que se propõe a ler linguagens de subjetividades urbanas é dar língua e escuta aos diferentes afetos que pedem passagem. Dele se espera basicamente que esteja mergulhado nas intensidades de seu tempo e que, atento às linguagens que encontra, devore as que lhe parecerem elementos possíveis para a composição das cartografias que se fazem necessárias para acolhê-las. Por este motivo, as Cartografias de Hospitalidade reúnem a arquitetura e urbanismo à geografia, à filosofia, à sociologia e às artes para reconhecer e expressar em suas narrativas, histórias, situações e manifestações do ‘não dito’ e do ‘não objetivo’: textos, vídeos, fotografias, performances, instalações, construções efêmeras, geração e gravação de sons e toda a forma de apropriação espacial, manifestação e registro do sensível são permitidos no processo. Desta maneira, as experiências servem à política de buscar reconhecer e perceber as ‘diferentes cidades’ dentro da cidade mergulhando os sujeitos envolvidos nas suas redes de interconexões de vivências e afetos, assumindo a cidade como o espaço do por vir. Esta forma de rever a representação da cidade oportuniza coloca-se diante de questões como: pensar o direito à expansão das potências dos sujeitos, da vida em comunidade e da esperança.

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